sexta-feira, 30 de julho de 2010

Em Enciclopédia da Estória Universal (Lisboa: Quetzal, 2009), o resultado deste trabalho criativo – que se distingue por uma escrita segura e por uma estrutura de algum modo original – é, quase sempre, uma inteligente, divertida e labiríntica paródia da história da cultura humanística e científica, que, no entanto, deixa entrever um discurso crítico cujo alvo é por vezes o presente (o neo-liberalismo, a desigualdade social, a justiça de classe…), desmontando certas dimensões do chamado pensamento único e pondo a nu as mais retorcidas facetas da existência humana.

Muito obrigado, José António Gomes.

terça-feira, 27 de abril de 2010

E, no final, ao se fechar o livro, pequeno do tamanho da mão aberta, sopesamos algo bem mais considerável que o que a nossa vista regista: o peso de uma sabedoria universal, de um micro-cosmos encerrado nesta maravilha apócrifa que a Quetzal terá sem dúvida conseguido surripiar ao Índice de Livros Proibidos. A não perder.

Ler o resto aqui. Obrigado, Rogério.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Tenho encontrado, em quase todo o lado, esta enciclopédia na secção de História das livrarias (Bertrand e Fnac Chiado, Bertrand CCB, Fnac Almada, Livraria Nazareth, etc.). A única excepção foi a Fnac Alfragide. Em certa medida, tudo isto encaixa na perfeição no conceito do livro, mesmo que os meus amigos (dois deles até já o leram) não encontrem a enciclopédia numa secção que deveria ser a sua, ou seja, a dos autores portugueses ou ficção universal ou qualquer coisa do género.
Este livro, apesar de ter conseguido que tantos livreiros tomem a ficção por realidade ou vice-versa, ainda não chegou a este nível: ser citado por um filósofo conhecido, ou ainda melhor, um historiador, como sendo uma obra de referência.

Via Ler.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Rascunhos

«Sobre o livro, apenas me alongo para dizer que adorei e que aconselho a todos os que gostem de uma leitura mais erudita, mas não complexa, cujo gosto literário se enquadre nos autores já citados acima.»

Ler o resto em Rascunhos.
Muito obrigado, Cristina.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Time Out

Enciclopédia da Estória Universal é o verdadeiro exercício de ironia. E começa logo no título: uma enciclopédia presume factualidade, conhecimento fundado, ciência. Mas esta enciclopédia elencada por Afonso Cruz (n.1971) – o verdadeiro homem dos sete ofícios, que tanto escreve como ilustra como compõe música – é uma reunião de ficções, curiosidades, pensamentos morais e filosóficos, parábolas, provérbios orientais, mitos e leituras. Tudo misturado de forma a deixar o leitor num permanente engano, dividido entre o que é facto ou ficção, que pensadores são verdadeiramente citados ou mero fruto da enorme criatividade do escritor. O mesmo engano, afinal, que se aplica à ideia de que é possível um total conhecimento das coisas.

Em entradas geralmente curtas e ordenadas alfabeticamente, o livro é rico em metáforas e aforismos. Pérolas como “atravessar paredes é muito simples quando há uma porta”, “a dúvida é o update da certeza”, ou teses curiosas como a que defende que o conto em que o sapo se transforma em príncipe quando é beijado pode ter surgido pelo facto de algumas espécies terem na pele alcalóides que provocam alucinações.


Para ler o texto completo, da autoria de Ana Dias Ferreira, dirija-se aqui.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Letra M - (Estar) morto

Há quatro maneiras de conhecer Deus, disse o Sheik Sharf-ud-dîn. Há o homem que diz que certo senhor se encontra em casa porque ouviu dizer. Há um outro que afirma a mesma coisa porque viu os cavalos à porta. Um terceiro diz que o senhor está em casa porque o viu à janela, ou mesmo dentro de casa. E, por fim, um quarto, um homem para quem não há qualquer distinção entre quem vê e quem é visto, numa coincidentia oppositorum, numa al fanaa.
Sharf-ud-dîn ainda fala dum outro estágio, provavelmente o mesmo a que se referia Kamil Uddin quando gritou, pelas ruas de Aleppo, «eu sou Deus, eu sou Deus». Com isto, conseguiu que o torturassem e o matassem, como aconteceu a Mansur Al-Hallaj por ter dito frase semelhante ("Ana al-haqq", disse Mansur Al Hallaj). No cadafalso, kamil Uddin acrescentou: «E não existo». A frase que pode ser lida como uma total dissolução do ego, uma al fanaa ainda mais dissolvida, pode também ser uma forma de ateísmo: «Eu sou Deus e, no entanto, não existo». Antecipando Nietzsche, um dos seus discípulos escreveu no túmulo do mestre: «Está morto».